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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Faltam poucos minutos para terminar o dia...
...e assim a vida passa. O hoje que havia amanhecido, lindo, torna-se, a cada segundo, mais uma parcela do passado. Envelheceu. Enquanto eu passava as horas possuído. Envelhecendo... Penso o quanto poderia ter vivido. Penso que poderia, de fato, ter vivido. O mundo tão grande... Eu, diminuído a alguns metros quadrados. Enquadrado em frases prontas, em gestos convencionalizados, em condutas necessárias ao progresso alheio. Leio, mas nada muda. A cada página do livro fico mais convencido racionalmente das dores que sinto. As dores são reais. Sinto-me tão vazio do que sou. Sinto-me esvaziado. Algumas recordações me trazem um eu verdadeiro que existiu em outro tempo. Aquele que eu era se sentia tão bem. Sorria. Acreditava tanto neste que eu sou agora, que a esta hora já deve ter morrido de desgosto. Decepcionado. Talvez seja por isso que não consigo mais sê-lo. Talvez ele esteja já enterrado a sete palmos de vidas que não voltam mais. Não voltam mais... como o dia que era hoje, que havia nascido lindo, cheio de sol, fresco pela brisa que passeava no espaço, mas que a partir de agora, passou, não é mais: foi, foi para a terra dos 'ontens' onde o aquele que eu era jaz, em paz.
sábado, 27 de agosto de 2011
Maturidade Fantástica
Supostamente para que nos tornemos efetivamente adultos, é necessário que abandonemos as fantasias da infância e passemos a viver a realidade “nua e crua”. Aparentemente sonhar, imaginar, despir-se da realidade de qualquer forma não faz parte do universo dos que objetivam a completa maturidade. Apenas a uns poucos é permitido, e até mesmo necessário, exercer certo grau de imaginação. Desta faz uso a criatividade tão exigida e indispensável aos arquitetos, designers, engenheiros, publicitários e novelistas, pois há nas fantasias destes profissionais uma utilidade muito prática: o lucro. No entanto não se pode exagerar. Aos exagerados são atribuídas alcunhas do tipo “poeta” ou “filósofo”: a esses 'sonhadores' não se atribui muita serventia. Assim ser adulto é, salvo exceções, e com consideráveis limites, encarar com seriedade o mundo tangível, e no máximo crer em Deus, no céu, e no inferno, para não sofrer demasiadamente com um passado injustificado, um presente sem motivos, e um futuro incerto.
Mas não creio que seja realmente assim. “Homem feito” não me desfiz das ficções que preenchiam meus pensamentos de menino. Elas mudaram é claro. Cresceram comigo. Ganharam novas formas. Mas permanecem. Fantásticas e tão frequentes quanto foram outrora. Sou eu um “mal adulto”? Penso que não. Observo que com muitos dos que chegaram a esta fase da vida ocorre semelhante. Exemplo: queremos muitas vezes ter o que não somos. Em tal ansiedade, numa irreprimível vontade, fantasiamos: acertar na loteria, ter o carro do ricaço ou a casa da socialite, receber o salário do futebolista, brilhar na fama da atriz, respirar na vida da personagem da novela, fotografar com a “beleza” das modelos. Em sua quase totalidade a vida é desejada, e não propriamente vivida. Aos poucos acabamos por viver nossas vidas fantasticamente. Diariamente, quer seja pela beleza, pela facilidade, ou pela riqueza, buscamos encontrar naquele “outro” a realidade que não vivemos. Não sem razão o sucesso das revistas que “apresentam” a vida dos famosos. De certo modo ler e ver como vivem as celebridades traz às pessoas alguma sensação de participação em suas vidas caras e luxuosas. Nas páginas, as imagens, os sorrisos, e as poses, apresentam-se como “ingredientes” de uma “receita de vida feliz”. Tudo Isso é mais real que o Papai Noel? Acho que não.
Mas a fantasia não para por aí. Há também uma ansiedade frequente a qual ao mesmo tempo em que não nos permite viver o “agora”, nos posiciona constantemente num “depois” incerto e nos distrai da realidade vivida naquele instante. Tanto que, amadoramente, analisei e nomeei tal comportamento como BIPEDE. “Busca Incessante Pelo Depois”. Uma fantasia contínua composta por “quandos” e verbos em tempos futuros. Sempre buscando o “quando se concretizará”. Não vivemos a segunda feira, pensamos no “quando chegará a sexta”. Não vivemos nosso trabalho, pensamos no “quando chegará a hora de ir para casa”. São constantes e curtos, mas nem sempre. Há BIPEDEs mensais, anuais e de períodos mais específicos e maiores. Como acontece com o universitário que iniciado no curso, já imagina o “quando” do momento de sua promoção à chefia. Ou nos contratos matrimoniais que preveem a separação já decidindo o “quem ficará com o que” pensando no “quando” do momento do divórcio. Confesso: vivo todas estas fantasias. Não pude evitar e cresci.
Entretanto, visita-me, com regularidade, umas fantasias que considero oposta à BIPEDE. Elas vêm como ressurreições de “quandos” passados. E neste caso, prefiro não nomear. Comportamentos com nomes costumam ter caráter patológico. Soam como algum tipo de transtorno que após avaliação médica e científica são definidos como “complexo de”, ou “síndrome do”. Assim, não analiso e não pesquiso, apenas sinto. Seu principal fator opõe-se paradoxalmente à ansiedade. Sua substância essência é a saudade. Esta que sem que eu perceba invade. E que me projeta ao mais encantador dos “quandos”: “quando eu era pequeno”.
Sou então reapresentado à minha infância. Reajusto-me às inocências que me absolvem de punições das quais os adultos não são privados. Não me pesam culpas ou pecados. Temo apenas as incertezas do escuro do quarto. Não me preocupa o futuro. A vida é sempre um presente. E é então que brotam as cores, os sons, os sabores, os perfumes e as vontades. Vejo meu pai deitando o braço do toca-discos sobre o vinil rodando macio. Sinto minha mãe me abraçando carinhosamente no caminho da escola. Ouço minha avó contando “estórias” assustadoras que só ela sabia. Sinto o gosto do chocolate presenteado pela tia. Sinto a dor no joelho ralado no tombo sobre o asfalto. Divirto-me com as primas que já partiram. Revivo as inúmeras travessuras. Desfaço-me das verdades petrificadas e as transformo em dúvidas. “Como nascem as crianças?”: pergunto. Respiro numa vida repleta de sonhos possíveis e fantasias reais. Não quero “ser quando crescer”, quero apenas permanecer... Neste instante percebo que o ônibus passou do ponto que eu ia descer.
Mas não creio que seja realmente assim. “Homem feito” não me desfiz das ficções que preenchiam meus pensamentos de menino. Elas mudaram é claro. Cresceram comigo. Ganharam novas formas. Mas permanecem. Fantásticas e tão frequentes quanto foram outrora. Sou eu um “mal adulto”? Penso que não. Observo que com muitos dos que chegaram a esta fase da vida ocorre semelhante. Exemplo: queremos muitas vezes ter o que não somos. Em tal ansiedade, numa irreprimível vontade, fantasiamos: acertar na loteria, ter o carro do ricaço ou a casa da socialite, receber o salário do futebolista, brilhar na fama da atriz, respirar na vida da personagem da novela, fotografar com a “beleza” das modelos. Em sua quase totalidade a vida é desejada, e não propriamente vivida. Aos poucos acabamos por viver nossas vidas fantasticamente. Diariamente, quer seja pela beleza, pela facilidade, ou pela riqueza, buscamos encontrar naquele “outro” a realidade que não vivemos. Não sem razão o sucesso das revistas que “apresentam” a vida dos famosos. De certo modo ler e ver como vivem as celebridades traz às pessoas alguma sensação de participação em suas vidas caras e luxuosas. Nas páginas, as imagens, os sorrisos, e as poses, apresentam-se como “ingredientes” de uma “receita de vida feliz”. Tudo Isso é mais real que o Papai Noel? Acho que não.
Mas a fantasia não para por aí. Há também uma ansiedade frequente a qual ao mesmo tempo em que não nos permite viver o “agora”, nos posiciona constantemente num “depois” incerto e nos distrai da realidade vivida naquele instante. Tanto que, amadoramente, analisei e nomeei tal comportamento como BIPEDE. “Busca Incessante Pelo Depois”. Uma fantasia contínua composta por “quandos” e verbos em tempos futuros. Sempre buscando o “quando se concretizará”. Não vivemos a segunda feira, pensamos no “quando chegará a sexta”. Não vivemos nosso trabalho, pensamos no “quando chegará a hora de ir para casa”. São constantes e curtos, mas nem sempre. Há BIPEDEs mensais, anuais e de períodos mais específicos e maiores. Como acontece com o universitário que iniciado no curso, já imagina o “quando” do momento de sua promoção à chefia. Ou nos contratos matrimoniais que preveem a separação já decidindo o “quem ficará com o que” pensando no “quando” do momento do divórcio. Confesso: vivo todas estas fantasias. Não pude evitar e cresci.
Entretanto, visita-me, com regularidade, umas fantasias que considero oposta à BIPEDE. Elas vêm como ressurreições de “quandos” passados. E neste caso, prefiro não nomear. Comportamentos com nomes costumam ter caráter patológico. Soam como algum tipo de transtorno que após avaliação médica e científica são definidos como “complexo de”, ou “síndrome do”. Assim, não analiso e não pesquiso, apenas sinto. Seu principal fator opõe-se paradoxalmente à ansiedade. Sua substância essência é a saudade. Esta que sem que eu perceba invade. E que me projeta ao mais encantador dos “quandos”: “quando eu era pequeno”.
Sou então reapresentado à minha infância. Reajusto-me às inocências que me absolvem de punições das quais os adultos não são privados. Não me pesam culpas ou pecados. Temo apenas as incertezas do escuro do quarto. Não me preocupa o futuro. A vida é sempre um presente. E é então que brotam as cores, os sons, os sabores, os perfumes e as vontades. Vejo meu pai deitando o braço do toca-discos sobre o vinil rodando macio. Sinto minha mãe me abraçando carinhosamente no caminho da escola. Ouço minha avó contando “estórias” assustadoras que só ela sabia. Sinto o gosto do chocolate presenteado pela tia. Sinto a dor no joelho ralado no tombo sobre o asfalto. Divirto-me com as primas que já partiram. Revivo as inúmeras travessuras. Desfaço-me das verdades petrificadas e as transformo em dúvidas. “Como nascem as crianças?”: pergunto. Respiro numa vida repleta de sonhos possíveis e fantasias reais. Não quero “ser quando crescer”, quero apenas permanecer... Neste instante percebo que o ônibus passou do ponto que eu ia descer.
terça-feira, 8 de março de 2011
Vinte e cinco.
Cada dia que passa é um dia a menos na contagem regressiva para os meus vinte e cinco: a exatos dois meses – ontem a Flor me lembrou. Muitos motivos para alegria. Mas há frustrações. Frustra principalmente o fato de que a contemporaneidade exige edifícios. Concluídos, em andamento, iniciados. Quem atinge esse percentual do século – 25 – nunca pode estar no projeto: eu estou. Às vezes me iludo. Saio pelos anos passados procurando o que poderia ter sido feito de útil. Inútil. Olho para o terreno, vazio. A planta, uma folha em branco. Talvez eu esteja edificando meu ‘ser’. Construindo, demolindo, refazendo, a cada dia. Com buscas, mudanças, perguntas, respostas provisórias, novas percepções. É possível que em mim uma cidade inteira esteja em processo de desenvolvimento. Mas para os meus contemporâneos isso é muito abstrato. Imaginário. A eles interessam apenas edifícios tangíveis; com boa estrutura e arquitetura criativa... Esse tipo de visão é perigosa. Tanto que às vezes penso que fui contaminado. Eu mesmo me cobro. Fico chateado por estar tão atrasado na corrida da vida, no jogo do ter. Deram a largada e eu creio que fiquei largado. Enquanto outros correm eu vou andando devagar, observando as belezas do percurso. Sem nem mesmo me lembrar da linha de chegada. E como o caminho é belo! É triste pensar que todo o trajeto – tantos quilômetros, tantos anos, tanta vida – seja visto como insignificante quando comparado aos troféus da linha de chegada, ou às posições do pódio. É, estou contaminado. E o primeiro sintoma é o medo. Medo de que passados mais vinte e cinco anos eu ainda esteja parado no mesmo trecho, observando uma árvore, ou sentado, encostado em seu tronco, sob sua sombra. Como posso ter medo desta imagem, deste sonho? O triste é que tenho. São patologias oriundas da contaminação. Deliro: durante o trajeto paro para descansar. Aproximo-me de uma linda árvore, na intenção de desfrutar do frescor de sua copa, e ali durmo. Começo a sonhar com o impossível. E quando acordo... Quando acordo já passou muito tempo. Não consigo mais voltar para o caminho. Não consigo mais correr. Nem sei mais falar a língua dos corredores. Transformei-me em cigarra... Passei o tempo de correr descansando. Sou uma cigarra. E ser formiga é que é preciso. Na fábula a cigarra sofre no final. Se bem que isso é história ficcional. É possível que mesmo que eu seja cigarra o meu final seja diferente. Até porque, final de história livro essencialmente já é diferente de final de história real de gente. É possível saber o final da história de livro. Basta olhar na última página. Na história real a última página é tão imprevisível quanto próxima letra. E o fim pode ser qualquer um em qualquer momento. Daqui a pouco. Amanhã. A exatos dois meses. Aos vinte e cinco, talvez. De repente pode ser a última linha. E após a última palavra... O que foi concretizado, a velocidade empenhada, as medalhas, as posições alcançadas, se tornam lindas lembranças. Apenas lembranças... Nada como um pouco de reflexão para curar temporariamente contaminações tão profundas.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Sobre o trabalho
"Quem anda duzentas jardas sem vontade anda seguindo o próprio funeral, vestindo a própria mortalha..." (Walt Whitman)
Confesso: não gosto de trabalhar. Isso por que muitas vezes o trabalho é uma obrigação, e eu gosto de ser feliz. Não se é feliz cumprindo obrigações. Agora mesmo era para eu estar trabalhando, mas eu não tô muito bem, e ser infeliz neste momento só ia piorar as coisas.
Meus pais dizem que o trabalho traz dignidade. Acreditei nisso durante muito tempo. Hoje discordo um pouco. Acredito que o que traz dignidade é o amor. O trabalho apresenta uma outra dignidade, que a ver com técnica e aparência. A dignidade presenteada pelo amor, é natural, pura e tem a ver com a parte humana dos seres.
Segundo a bíblia o "trabalho" foi entregue ao homem como castigo de Deus a Adão - “No suor do teu rosto comerás o teu pão...” - por ter, junto com Eva, dado ouvidos à serpente, comendo o fruto da árvore que estava no meio jardim do Éden: Talvez seja por esse motivo que eu não tenho afinidades com trabalho: não gosto de castigos.
Os ocorridos bíblicos são subjetivos, interpretativos, coisa de crença. Mas tem sentido. O trabalho geralmente é um castigo: acordar cedo, ou dormir tarde, pegar ônibus ou trens lotados, engarrafamentos nas avenidas, suar excessivamente, ouvir superiores ranzinzas, fazer o máximo de esforço, ter ‘o mínimo’ como recompensa, e tudo isso sem vontade alguma, e pior sem amor. Creio que hoje em dia, com tudo que há, a palavra “castigo”, para definir o trabalho, tenha ficado um pouco defasada.
Como eu já disse hoje eu não fui ao trabalho. Uma grande falta de responsabilidade. Mas estava mesmo difícil. Fiquei pensando para onde iria, e quando menos percebi estava sendo feliz com o livro A Descoberta do Mundo, da Clarice, nas mãos. Lendo em pé, pois estava numa livraria. Fico feliz quando estou em uma livraria. Aquele universo de mundos a serem descobertos – o livro da Clarice até pelo título estava coerente.
Pelo fato de estar sem recursos financeiros, não posso, como realmente gosto, adquirir os livros pelos quais estou me apaixonando. Portanto, para lê-los, é necessário ficar na livraria, muitas vezes, como disse, em pé; lendo trechos em pé; mas por livre e espontâneo prazer, por amor: sendo feliz.
Por ficar muito tempo ali na livraria e conduzido pelo meu dilema “trabalho ou amor?” comecei a reparar nos funcionários da livraria. Ficam ali trabalhando, obrigados. Obrigados?! Não, isso eu não sei. Mas talvez eu possa afirmar que estão cumprindo obrigações. Não podem, por exemplo, parar de repente, pegar um livro e começar a lê-lo. Nem em pé, como eu faço. Eles precisam organizar, mover, guardar, repor, carregar, atender, essas são as suas funções de empregados de uma livraria: seu trabalho.
Penso então no amor que tenho pelos livros. Além do próprio conteúdo, o quanto saboreio tocá-los. O quanto adoro o cheiro das páginas, cheiro de papel “novinho em folha”. O quanto me interesso pelas capas criativas e interessantes, e o quanto critico as que apenas visam chamar atenção, para preencher a falta de conteúdo do exemplar. Toda essa parte material que para a essência do livro é apenas um complemento supérfluo, para o meu tato, para o meu olfato, para os meus olhos, é uma fonte de prazer inicial.
Então eu imagino como seria estar no lugar de um dos funcionários: trabalhando com o que amo. Imagino-me organizando, guardando, repondo, movendo, carregando, atendendo, com todas as terefas dos funcionários, com as suas gostosas obrigatoriedades de mergulhar na superfície logística dos livros. Envolvido no mundo das editoras, falando de quantidades em estoque, devoluções, reservas; infiltrado nas prateleiras de Literatura Brasileira, Filosofia e até de Auto-ajuda, parando para atender algum cliente, recomendando a ele escritos da Clarice. Eu, ali, trabalhando numa livraria: suando com o que amo.
Rick Warren diz que "normalmente não é o excesso de trabalho que nos estressa, e sim o trabalho sem sentido". Talvez seja mesmo isso. Quando se faz o que gosta, se enxerga o real sentido da função, não se encara como uma obrigação, ou como um trabalho no sentido bíblico: castigo divino. Quando se trabalha com que se gosta encara-se, na verdade, como uma diversão rotineira que ainda por cima rende proventos no final do mês. É como tomar banho: necessário, mas gostoso.
Rick Warren diz que "normalmente não é o excesso de trabalho que nos estressa, e sim o trabalho sem sentido". Talvez seja mesmo isso. Quando se faz o que gosta, se enxerga o real sentido da função, não se encara como uma obrigação, ou como um trabalho no sentido bíblico: castigo divino. Quando se trabalha com que se gosta encara-se, na verdade, como uma diversão rotineira que ainda por cima rende proventos no final do mês. É como tomar banho: necessário, mas gostoso.
Assim começo a perceber que o que eu não gosto realmente é de ser obrigado a chorar. Já chorar vendo um filme é muito bom. Eu adoro. Ou seja, não gosto do trabalho-castigo: obrigação, sem amor, sem prazer, sem sabor, sem saber, com dor. Gosto do que não caracterizamos como trabalho, por ser tão bom para a nossa alma.
Vejo o meu pai dirigindo. Acordando cedo para dirigir. Dormindo tarde porque estava dirigindo. Passando os dias dirigindo. E quando vai passear com a família, num momento de lazer, de tranquilidade, de paz, ele nem pensa: vai para o seu lugar com as mãos no volante, conduzir. Isso porque dirigir para ele não é sua obrigação, é a sua paixão. Ele ama ser condutor: faz por trabalho, mas faz também por/com amor.
Após essa longa tentativa de me redimir pelo fato de ser vocacionado à felicidade, digo àqueles que me condenaram no início que se um dia eu puder fazer o que eu gosto, se eu puder passar as minhas noites acordado para terminar um trabalho que será entregue no dia seguinte porque amo o que faço, prometo que direi: Adoro trabalhar - adoro ser feliz.
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